sexta-feira, 6 de maio de 2011

A morte de Bin Laden e suas implicações

 Essa semana foi marcada pela morte do homem mais procurado do mundo, o terrorista saudita Osama Bin Laden. O mentor do maior ataque terrorista da história da humanidade foi abatido após nove meses de preparação para a ação, os quais se deram após a descoberta do local onde ele estava escondido. O fato representou um misto de sensações para os norte americanos: alívio, vitória e para alguns a de vingança. A realidade é que ocorreu o que todos esperavam após o 11 de Setembro, a morte de Osama. Inclusive o terrorista e sua organização já estavam cientes do que viria a ocorrer, visto que ele já havia preparado um testamento e a sua sucessão na liderança da Al Kaida já estava sendo providenciada. 
A  morte de Osama é mais simbólica do que, efeitvamente, uma vitória contra o terrorismo. Digo isso por que a tendência daqui pra frente é que venham a ocorrer mais atentados como represália ao ocorrido, o que já vem sendo alertado após a morte de Osama. Talvez se tivesse ocorrido a sua prisão ao invés da sua morte, Bin Laden não tivesse que continuar a representar a temeridade aos EUA e ao resto do mundo, além de ser uma forma pela qual ele pagaria de forma mais efetiva pelos crimes que cometeu.  
Algo que também chamou a atenção foram algumas críticas sofridas pelas pessoas que saíram às ruas de Nova Iorque para comemorarem o êxito da ação. Bem, isso é algo que deve ser analisado com muita cautela: perder amigos e parentes em um atentado terrorista é irreparável, e essa era a única resposta possível para essas pessoas que sofreram com essas perdas. Além disso, o sentimento de patriotismo norte americano é algo que deve ser levado em consideração, pois além da questão individual, todo um sentimento nacional foi afetado. É certo que comemorar a morte de alguém não é eticamente, religiosamente ou humanamente aceitável, mas as circunstâncias também devem ser levadas em consideração.
São muitas as polêmicas em torno desse fato, havendo, inclusive, quem duvide da sua veracidade. Esse tema é bastante controverso e que poderá ensejar muitas outras postagens no BLOG DOS HISTORIADORES. O que importa é que este foi um fato histórico e que terá implicações mais tarde. Esperamos que estas implicações não sejam a disseminação de mais violência e ódio pelo mundo.

Nordeste - As nuances da formação da identidade de um povo - Final

Todas essas correntes, sejam literárias ou científicas, as quais possuíram o intuito de fornecer uma construção ideológica a respeito do Nordeste, contribuíram para a imagem que hoje se tem sobre a região. Não podemos nos esquecer da mídia, que também teve papel importante nesse processo. Cabe a nós, nordestinos, desconstruirmos essa imagem que os outros formaram sobre nós mesmos e, a partir do conhecimento histórico sobre a nossa região formarmos concepções nas quais possamos nos identificar com elas.
A partir do momento em que o próprio povo conhece a própria história, tornar-se-á possível a formação de concepções diferenciadas a seu próprio respeito. É nesse contexto que se torna imprescindível o historiador e o professor de história, realizando estes papéis associados ou não. O importante é que a pesquisa seja realizada com o lançamento de um novo olhar sobre as fontes e que essa mesma pesquisa seja socializada, e isso se dá através do professor de História.

Nordeste - As nuances da formação da identidade de um povo - Parte 4


Saindo um pouco da análise que deve ser feita pelos historiadores dos nossos dias, adentremos nas concepções defendidas pelos historiadores Mattoso e Freyre, os quais possuem concepções semelhantes a esse respeito. Esse ponto comum é observado justamente na relação existente entre o homem e o espaço no qual ele habita. Eles obtiveram essa inspiração sobre essa relação inerente ao regionalismo a partir dos historiadores franceses, sobretudo no final do século XIX e começo do século XX.
Dentro dessa forma de se fazer a história regional e local que é defendida por Mattoso, torna-se imprescindível tecer uma crítica a respeito de um dos aspectos por ele defendidos. Para ele, o espaço regional é visto apenas como um cenário no qual se desenrolam determinados acontecimentos. Essa concepção é equivocada pelo fato do espaço também ser um acontecimento histórico quando levamos em consideração a sua construção. Isso ocorre por que esse mesmo espaço faz parte do contexto vivenciado pelas pessoas, tendo sido ele construído por elas próprias, como fica explicitado por Durval Muniz2:

“A identidade regional não é dada pelo espaço onde nasce, ela emerge de um trabalho de subjetivação, ela é a constituição de uma dada subjetividade através das relações sociais e da incorporação consciente ou não das narrativas que definem este ser regional”.

Essa construção do espaço perpassa por uma relação que é construída entre o homem e o próprio espaço geográfico e vem a calhar nas relações de pertencimento a uma determinada região, assunto já tratado anteriormente neste trabalho.
Ainda dentro da perspectiva de Mattoso, são apresentados alguns aspectos metodológicos que, segundo ele, devem ser observados na construção de uma história local ou regional. Dentre eles podemos fazer alguns destaques: a caracterização do espaço escolhido; a demografia e a análise das formas de consumo dos recursos encontrados. Bem, inegavelmente, estes são aspectos importantes, como a questão do espaço, já tratada aqui anteriormente. Entretanto, também se faz necessário que sejam levadas em consideração as particularidades dos locais em análise. Isso faz com que aspectos que são importantes para o estudo de uma determinada localidade não possuam o mesmo valor para outra. 
Ainda nesse aspecto de construção da história local ou regional, se faz necessário alertar para o fato de que as fontes encontradas pelo historiador nunca serão completamente fiéis, ou seja, não serão puras. Sempre haverá ideologias que perpassaram as fontes que estão sendo utilizadas pelo historiador, além da sua incompletude. Não se pode falar em dificuldade de fontes em relação à história do Nordeste, visto que estas podem ser encontradas de forma abundante, o que falta é a realização de estudos a esse respeito. 
Dentro dessa perspectiva dos estudos a respeito da região Nordeste, é necessário abordar a diferenciação entre a corrente histórico-estrutural, posterior a 1937 e aquela anterior a esta data, de cunho predominantemente literário. Nessa última corrente não havia interpretações científicas a respeito dos fatos narrados, mas se configurava como uma crônica histórica. Tal corrente se caracterizava por formar uma visão de Nordeste proveniente de autores que não eram nordestinos, salvo algumas exceções, com Gilberto Freyre. Havia críticas à obra Freyreana, visto que ela representava os interesses da oligarquia. Para o autor recifense, não havia mais as relações fixas entre senhores e trabalhadores após a queda do Nordeste açucareiro. Entretanto, a realidade que as publicações da época retratavam era outra: as formas de dominação entre senhores e escravos havia apenas tomado um revestimento diverso, permanecendo muito semelhante em sua essência. Houve desse modo, uma passagem de cunho mais formal do que efetiva do trabalho escravo ao assalariado.
Mesmo com todas as críticas que podem ser tecidas em relação a sua obra, não podemos negar a forte influência dessas ideias defendidas por Freyre, as quais refletiam inclusive na política, sendo que alguns desses políticos pediam, inclusive, a reforma das leis trabalhistas. Então, por qual motivo Freyre realizava as suas afirmações? Havia por parte dele um saudosismo que representava os interesses das classes oligárquicas do nordeste, as quais tiveram o seu auge enquanto o nordeste era o eixo econômico do Brasil. A questão da idealização do nordeste com essas relações patriarcais. Na verdade, houve uma continuidade da dominação pela mesma elite, mas agora com outro formato.
Na verdade, e explicando o termo “predominantemente” que fora anteriormente utilizado, essas obras literárias também se propunham a realizar uma análise “científica” a respeito da formação do Nordeste, sobretudo em relação à demografia e às análises territoriais. Exemplo é a obra literária “Os Sertões”, do autor fluminense Euclides da Cunha. O autor buscava com a sua obra realizar uma obra de cunho jornalístico, ao relatar a guerra de Canudos e ao mesmo tempo descrever o nordeste a partir de uma visão externa ao mesmo. A partir do que acabou de ser exposto, é possível concluir que essa corrente teve um cunho predominantemente empírico.
A publicação do livro “outro nordeste”, de Djacyr Menezes, foi um marco que representou a passagem da corrente empírica para a histórico-estrutural a respeito da historiografia do Nordeste, no ano de 1937.

Nordeste - As nuances da formação da identidade de um povo - Parte 3


Nesse contexto torna-se necessário que haja uma reelaboração e também uma ressignificação do sentido que é dado a região Nordeste. Entretanto, esse processo não deve ser realizado de modo a isolar o passado em relação ao presente, essa ressignificação deve fazer sentido nos dias de hoje. Para Durval Muniz1:

“A escrita da história regional ou local é, neste sentido, não apenas um trabalho da re -apresentação da região, um trabalho de explicação do regional, mas é um trabalho de elaboração do regional, de ressignificação, de atualização de sentido que a região possa ter, é um trabalho de invenção ou re - invenção do regional ou do local.”

Isso ocorre até pelo fato dela ser um instrumento que deverá proporcionar a formação de uma noção de pertencimento e identificação das pessoas em relação a uma determinada região.  Sendo assim, será importante o papel do historiador nesse processo, que tem por intuito formar um modo de ser regional. Desempenhando o seu papal de “Tecelão dos Tempos”, título bastante sugestivo de um dos textos do autor Durval Muniz de Albuquerque Júnior, o historiador deve realizar essa reelaboração da história do Nordeste. Essa reconstrução não deverá seguir paradigmas ou fórmulas predefinidas, como pressupõe o historiador português, Mattoso. Seria mais sensato levar em consideração as peculiaridades encontradas em cada região, mas isso não quer dizer que deve relegar as categorias a serem analisadas, as quais se refere o historiador luso: o espaço no qual ocorrerá o estudo, a demografia, as formas de consumo, entre outros. A modificação que deve ocorrer é no tocante à interpretação que se vai dar a essas categorias, a qual, como já se falou, levará em consideração a realidade vivenciada na região.
Essa interpretação se diferencia quando a ideia de nordeste é produzida fora do seu próprio espaço, a qual pode se contrapor àquela realizada internamente. Sem o intuito de afirmar que os autores não nordestinos que tratam da história da região não possuem autoridade para tal, não se pode negar que algumas vezes há interpretações que levam a uma visão estereotipada do Nordeste. A ideia regional produzida no seio da localidade, por sua vez, poderá levar a uma maior identificação daqueles que dela possuem conhecimento, visto que as pessoas ver-se-ão, de fato, naquele discurso produzido. Diante do exposto cabe-nos aqui fazer a seguinte indagação: qual dessas duas visões predomina entre os habitantes da nossa região? A resposta a essa pergunta poderá ocorrer a partir da observação e análise de situações simples, e que podem até serem consideradas irrelevantes, as quais ocorrem no cotidiano da maioria da população. Muitos nordestinos possuem verdadeira aversão à chamada cultura popular da sua região. Acompanhar uma apresentação de um grupo de maracatu e caboclinhos em alguns eventos de grande porte realizados em Pernambuco é uma grande oportunidade de conhecer turistas de outros estados do País. Ironias à parte é ínfima a participação do próprio povo pernambucano nesses eventos, sobretudo no interior do estado. Questionando-se a respeito do motivo pelo qual ocorrem situações como esta, pode-se destacar o papel da grande mídia, sobretudo a televisiva. Temos nessa situação referente à televisão uma situação interessante e ao mesmo tempo problemática: o nordeste é pouco mostrado na grade televisiva, sobretudo nas telenovelas, as quais possuem grande audiência. O pouco que é apresentado chega por vezes a ridicularizar o nordestino, sobretudo através da fala e dos sotaques de personagens dessas telenovelas. Pois bem, se não há um efetivo conhecimento a respeito da cultura e do “ser nordestino” pela maioria das pessoas e o que chega até os mesmos vem através dessa grande mídia, a consequência é que as mesmas eximam-se de compartilhar dos elementos que caracterizam a região.
Construir o conhecimento a respeito do regional e desconstruir esses discursos a respeito do Nordeste, os quais foram cristalizados pela mídia, passa também pelas construções historiográficas que foram, estão sendo e que serão trabalhadas. 
A historiografia possuía, e por vezes ainda possui como lamentável prática a relação do regional com a tradição e com a lentidão dos processos e das mudanças que nele ocorrem. Traçando um paralelo entre essa afirmação e o Nordeste, podemos perceber que também há essa visão em relação à região, não somente por causa da mídia, mas também por causa da produção historiográfica. Teremos aqui que realizar uma breve retrospectiva em nosso raciocínio, retornando à questão da diferenciação entre a visão de Nordeste produzida fora e aquela produzida dentro da região. Aqueles que formam concepções de Nordeste em um movimento que possui um sentido que vai do exterior para o interior costumam realizar comparações com a sua e até com as demais localidades. Isso gera a utilização do tão contestado termo evolução, estando ele apensado ao vocábulo desenvolvimento. Sendo assim, ao observarem determinadas formas que fazem parte da realidade nordestina, sejam elas políticas, econômicas, sociais, entre outras, e que não vigoram mais em outras regiões, chega-se à conclusão de que há um atraso do Nordeste em relação às demais regiões do País. É importante que os historiadores atentem para os discursos que estão sendo produzidos por eles, pois os mesmos não ficarão presos às páginas de livros ou artigos científicos, mas farão parte de construções ideológicas sobre determinados temas recorrentes na sociedade.
Dentro do aspecto historiográfico temos que relembrar o fato de que a construção da história do Nordeste é algo de cunho regional.