domingo, 9 de outubro de 2011

RESENHA CRÍTICA: GÊNERO E ENSINO – PARÂMETROS CURRICULARES

A grande distinção que é feita entre homens e mulheres faz com que um veja o outro como estranho, mesmo com ambos vivendo em uma mesma sociedade. Muitas vezes, a intenção de distinguir categorias com o intuito de conferir às mesmas um maior reconhecimento vai além dessa intenção inicial, ocorrendo às vezes o oposto do que foi intencionado. Essas visões tendem a se modificar de acordo com o passar dos anos através da História, que vem a desestabilizar as formas aceitas. A autora, portanto, parte dessa idéia, para que seja feita uma análise a respeito dos Parâmetros Nacionais Curriculares no que diz respeito às relações de gênero, as quais aparecem em um dos seus eixos transversais. Essa inclusão reflete as conquistas dos movimentos feministas e a importância do debate a respeito do gênero no meio acadêmico. É de suma importância a inclusão desses temas nas universidades pelo fato de ser a partir desse espaço de construção de conhecimento que a temática é levada até a escola e à sociedade. A adaptação realizada nos PCNs com o intuito de conferir mais clareza e acessibilidade ao conteúdo abordado provocou a uniformização dos conteúdos. As críticas realizadas a respeito das formas pelas quis o tema foi tratado se refere à oposição latente entre sexo e gênero, sendo que o primeiro foi tratado como algo estritamente biológico e o segundo de modo social. Temas polêmicos e delicados como este são de difícil adaptação linguística e temática, pois se corre o risco de suprimir e conferir diferentes sentidos aos mesmos.  
Estudos realizados na década de 1980 vieram a apoiar essa concepção empregada nos PCNs, de modo que a relação entre os sexos foi tida como algo eminentemente social. O problema está em tratar essas maleabilidades de modo a estabelecer um parâmetro ideal para homens e mulheres. Desse modo, a oposição entre os comportamentos masculinos e femininos confere um caráter de estranheza entre as duas categorias. Essa concepção acabou por criar de forma implícita, diga-se de passagem, um padrão que deverá ser seguido por homens e mulheres, pois, na medida em que um determinado comportamento é todo como diferente, infere-se que há um que seja natural. A partir daí o texto dos Parâmetros passa a defender a idéia de compreender e tolerar o diferente para que se possam evitar os atos de discriminação e violência. Também o “outro” é tratado, nos PCNs como sendo uma minoria, ocorrendo um esvaziamento dos âmbitos políticos e históricos que envolvem o tema. Para que se defenda a idéia de não agressão e discriminação a determinadas categorias sociais não é necessário isolar as mesmas em um ambiente diferente da chamada “maioria”. Deve sim, conscientizar de que todos nós somos iguais e que convivemos em uma sociedade que abarca diversas categorias com todas as suas nuances.  
Não se pode mais tratar essa questão em torno do gênero de modo a levar somente em consideração a dicotomia sexo/gênero, pois essa concepção já está ultrapassada quando são levadas em consideração as relações de poder. Ao fazer essa espécie de abordagem, os PCNs estão impedindo que esse conhecimento seja tratado como elemento de transformação das relações sociais. O que vem a estabelecer o gênero não é somente uma questão biológica, mas também o meio e o estabelecimento de relações sociais e, sobretudo, as de poder.  
O sentido que é encontrado em relação aos corpos masculinos e femininos é fruto de uma relação social que atribui uma imagem a esses elementos. Assim também é a sexualidade, que não se constrói somente a partir de concepções biológicas, mas também levando em consideração características políticas e culturais. Esses dois eixos, gênero e sexo, fazem parte de uma conjuntura que engloba aspectos que variam de acordo com o tempo, o que refuta a idéia biológica. Quando se defende essa homogeneização, há como conseqüência uma dominação e hierarquização, desembocando em uma relação de poder, fundada na relação do “eu” com o “outro”.  

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Pré História - Uma abordagem Ecológica (Resumo)

Para que possamos entender o mecanismo da evolução humana é necessário que haja a compreensão de dois processos: as adaptações biológicas e as modificações culturais, ambas sofridas pelo ser humano no decorrer do tempo. A junção desses dois aspectos teria possibilitado ao homem chegar ao seu atual estágio evolutivo. Também não se pode desconsiderar a importância da relação homem/natureza e as modificações por ela sofridas, para que houvesse o desenrolar dos acontecimentos. 
Algumas teorias já foram formuladas com a intenção de explicar a origem do Homem e a sua evolução ao longo do tempo: a Igreja Católica apóia-se na idéia do Criacionismo; Lamarck postulou a Lei do uso e desuso até que finalmente Charles Darwin, com a seleção natural, pareceu ter dado a resposta mais concreta a todas as indagações que se referem ao Homem e às suas origens. Um grande empecilho para os estudos acerca da evolução humana, se deu pelo fato de alguns setores do conhecimento (evolucionistas, paleontólogos, geneticistas, etc.), buscarem explicações baseadas apenas nas suas respectivas áreas de estudo, esse problema foi resolvido com a junção dos resultados obtidos por essas disciplinas. Tais estudos chegaram à conclusão de que a evolução biológica se relaciona com alterações genéticas nas populações. Outra conclusão muito importante dos estudiosos, afirma que o macaco não é o ancestral do Homem (ou o elo perdido, como também é chamado), sendo que os dois descendem de um ancestral em comum. A referida afirmação vem de encontro a um “mito” formado ao longo do tempo, o qual afirma que o homem “veio” do macaco, o erro está no fato de que na evolução dos primatas ocorreram várias divergências, uma delas resultou no Homem e outra no macaco. 
Da origem da Terra até o aparecimento das primeiras formas de vida, passaram-se milhões de anos, e até o surgimento do homem, mais alguns milhões. A trajetória humana ao longo do tempo é cercada de muitas lacunas e mistérios, o que faz da questão evolutiva, um assunto sempre em discussão. Os primeiros vestígios hominidas são datados de 3 a 3,5 milhões de anos com a descoberta de Lucy, cuja espécie foi denominada, Australopitecus A. Farensis. A partir daí, várias hipóteses foram formadas, visto que os achados arqueológicos são, algumas vezes, controversos. A partir da informação de que o A. Farensis (Lucy), e o A. Farensis (robusto) possuem um ancestral em comum (ainda desconhecido), o primeiro teria originado o Homo Sapiens e o segundo o originou o A. Robustus e o A. Bolsei, foram traçados mais dois cenários. Alguns fatores contribuíram para a evolução biológica do Homem: o uso de ferramentas de pedra, que aumentava a sua capacidade de raciocínio e consequentemente o desenvolvimento de novas ferramentas e o consumo da carne, que aumentou o tamanho do seu cérebro.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Lutero e os Judeus - Um assunto polêmico


Capa original do livro
Vou tratar aqui de um tema bastante polêmico, envolvendo a temática referente à religião. Até que ponto o que conhecemos dos livros didáticos de História é o que de fato se deu nos nossos antepassados? Será que aqueles que são responsáveis pela sua escrita não reproduzem apenas aquilo que os convém? De fato, em toda escrita (inclusive na que o caro leitor está lendo agora) há algum tipo de interesse daquele que a produz. No campo religioso esse aspecto é bastante relevante, principalmente quando está se tratando do tripé Idade Média - Igreja Católica - Reforma Religiosa. O estudande de história do ensino fundamental e médio que não se aprofunda no tema e se restringe às informações do livro didático obtém uma imagem da época que põe de um lado a "perversa" Igreja Católica e de outro o "salvador" reformista Lutero. Como já hávia afirmado em um dos posts anteriores a história não é formada por hérois e bandidos, mas essa é a imagem difundida a respeito dessa relação. O que os livros transpoem é que revoltado com todos os desmandos realizados em Roma, o alemão Lutero rebela-se contra o Papa e a partir do seu manifesto institui a religião luterana, primeiramente na Alemanha, vindo a se difundir em outras partes da Europa e do mundo, posteriormente. Além disso, se você assiste ao fime "Lutero", vai perceber que a sua imagem é de uma pessoa pacata e defensora da paz. A leitura de um livro do próprio Lutero me fez desconstruir essa imagem de tamanha bondade e misericóridos, a obra chama-se "Dos Judeus e suas mentiras", escrito em Janeiro de 1543. Nele, o teólogo prega o ódio, a perseguição e a tomada de bens dos judeus, numa espécie de anti-semitismo. A linguagem chega a ser chula, com expressões injuriosas e repletas de ódio e inictação à violência contra os judeus, algo bastante reprovável. Esss livro teve influências sobre os ideais do regime nazista alemão, chegando a ser citado em um dos comícios dos Nacionais-Socialistas. Eis alguns trechos do livro:
- "Em primeiro lugar, queimem-se suas sinagogas e suas escolas, e cubra-se com terra o que recusar-se a queimar, de modo que homem algum torne a ver deles uma pedra ou cinza que seja".
- "Em segundo lugar, recomendo que suas casas sejam também arrasadas e destruídas". 
- "Terceiro, recomendo que todos os seus livros de oração e obras talmúdicas, nos quais são ensinadas tais idolatrias, mentiras, maldições e blasfêmia, sejam tirados deles".
- "Quarto, recomendo que seus rabis sejam de agora em diante proibidos de ensinar, sob pena de morte ou da amputação de algum membro". 
- "Quinto, recomendo que o salvo-conduto para o livre-trânsito nas estradas seja completamente negado para os judeus".
- "Sexto, recomendo que sejam proibidos de emprestar a juros, e que todo o dinheiro e peças de ouro e prata sejam tomados deles e colocados sob custódia".  
- "Sétimo, recomendo que se coloque um malho, um machado, uma enxada, uma pá, um ancinho ou um fuso nas mãos dos jovens judeus e judias, e deixe-se que eles ganhem o seu pão com o suor do seu rosto, como foi imposto sobre os filhos de Adão (Gênesis 3:19). Pois não é justo que eles deixem que nós, os gentios malditos, labutemos debaixo do nosso suor enquanto eles, o povo santo, gastam o seu tempo atrás do fogareiro, banqueteando-se e peidando, e acima de tudo isso vangloriando-se blasfemamente do seu senhorio sobre os cristãos através do nosso suor".
Bom, fiz esse post pelo fato do livro ter me chamado a atenção e, principalmente, por eu nunca ter visto esta abordagem em livro didático algum. Peço, entretanto, que o caro leitor sinta-se à vontade para tirar as suas próprias conclusões sobre o tema, assim como todos os outros abordados neste blog. O certo é que na História há fatos que não temos a mínima ideia de que eles ocorreram, ou pelo fato de não terem sido descobertos ou de serem omitidos, cabendo a nós irmos além daquilo que nos é dado. 

Getúlio Vargas – A duplicidade de um “mito”

Getúlio Vargas

É muito recorrente nos caminhos da História a existência de figuras dúplices, que comportam ideias plurais e até opostas a seu respeito. Temos como exemplo Lampião e intermitente pergunta: “Herói ou bandido?”. Também podemos incluir os bandeirantes, sobre os quais podemos indagar se os mesmos seriam desbravadores, ajudando a interiorizar o País, ou sanguinários assassinos de índios. Getúlio Vargas também se encaixa nesse perfil ambíguo quando confrontamos os avanços na economia e nos direitos trabalhistas com o regime totalitário que vigorava no Brasil.
Não se pode negar que a criação da Petrobrás, da Companhia Siderúrgica Nacional, e, principalmente, a consolidação das leis trabalhistas, foram avanços que continuam a influenciar diretamente o país. A alcunha de “O pai dos pobres” que recai sobre Getúlio não é um acaso, mas é fruto da política paternalista por ele adotada, colocando-se como protetor do povo, sobretudo daqueles mais necessitados. Os discursos a respeito da família, Deus e a Pátria como pilares da nação ratificam esse caráter getulista. Analisando outro aspecto desse período temos a sua forte ligação com os regimes totalitários, principalmente com o fascismo de Mussolini. Sendo assim, há uma contraposição entre os avanços ocorridos e a violência empregada contra aqueles que eram contra o governo. Ainda hoje se exalta a figura de Vargas pelos avanços ocorridos no Brasil, havendo sempre um “porém” quando ao aspecto repressivo por ele utilizado.
Não podemos dizer que na História há heróis ou bandidos, vilões ou mocinhos, mas apenas pessoas que constroem as suas imagens que perduram e vão sendo reconstruídas perante as gerações.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Um conto para refletir


Um cidadão da Bramânia estava assistindo aos noticiários nacionais e ficou se perguntando: o que está ocorrendo com o meu País? Pensando consigo mesmo ainda indagou que parece que a classe política não se importa mais em roubar o dinheiro da nação, pois estão fazendo isso sem nenhum temor. Aliás, continuou ele, não tem mesmo o que temerem, pois não são punidos. Quem deveria temer era ele, humilde cidadão, que estava sendo governado por tantos “Alibabás e quarenta ladrões”. São escândalos e mais escândalos, os quais parecem não mais tocar as demais pessoas do País, que permanecem inertes a essa situação. Aliás, sempre vidradas na televisão, especialmente na ainda principal emissora de televisão, Rede Blogo, parecem estarem anestesiadas com todo o besteirol que adentra em suas mentes. Começou o cidadão a refletir sobre as denúncias de superfaturamento em obras de responsabilidade do Ministério da Transitoriedade, o último escândalo de uma série que ocorreu na Bramânia e que podem ser facilmente observadas no seu dia a dia: quem nunca passou por estradas esburacadas e afundando, as quais foram “reformadas” há pouco tempo? Além disso, ele conhece muitas pessoas que já perderam as suas vidas devido a estradas mal conservadas. O cidadão Bramaneiro chegou à conclusão de que o dinheiro desviado dos cofres públicos faz falta a todos os cidadãos do seu país, seja na área da saúde, dos transportes, da educação, etc.
Ele começou a pensar sobre o que poderia ser feito para que essa situação fosse revertida. Chegou à conclusão de que somente ele e os seus compatriotas bramânicos poderiam mudar a realidade do seu amado País, através da escolha consciente dos seus representantes. Nada de troca de favores ou votos comprados, mas a análise da vida e ações dos candidatos. Talvez assim a Bramânia saísse dessa situação que entristece os seus habitantes (claro, daqueles que enxergam essa situação e não se prendem à “caixa mágica” chamada televisão).

sábado, 2 de julho de 2011

Convite aos leitores do BLOG DOS HISTORIADORES

Prezados leitores e leitoras deste blog, gostaria de utilziar novamente esse espaço para realizar a divulgação de mais um evento que irá ocorrer na cidade de Garanhuns, mais exatamente durante o XXI Festival de Inverno desta cidade. Trata-se da oficina cultural "Ler, compreender e preservar: Educação Patrimonial", a qual será ministrada pela amiga Danielle Ferreira. Em breve serão divulgadas mais informações a respeito da oficina, como o dia, o local e o horário de realização, tanto aqui no BLOG DOS HISTORIADORES quanto no blog de Danielle: daniellesilvaferreira@blogspot.com. Segue na íntegra o convite enviado por Danielle:

"Caros amigos e amigas, venho convida-los, através da Diretoria de Políticas Culturais da FUNDARPE, em sua atuação durante o 21º Festival de Inverno de Garanhuns, à participar da oficina que Danielle Ferreira estará ministrando: "Ler, compreender e preservar: Educação Patrimonial". Em breve mais informações sobre inscrições no blog: daniellesilvaferreira@blogspot.com."

Contamos com a participação de vocês!

domingo, 26 de junho de 2011

O homem, um sujeito inventor

A pinga - Inventada pelos escravos
Olhando alguns sites na internet encontrei alguns textos que me chamaram a atenção. A página "www.sitedecuriosidades.com" mostra, na sua seção "invenções", alguns objetos  e tecnologias que foram surgindo ao longo da história da humanidade e que nos remetem a muitas curiosidades. O site mostra como ocorreu o surgimento, entre outros, da pizza, da antena, dos satélites e até do vestibular! 
Tudo isso me fez chegar à conclusão de que tudo, absolutamente tudo que está e que esteve ao nosso redor possui ou possui uma história, percorreu ou percorre um trajeto até chegar ao estágio em que se encontra. O homem é um sujeito histórico, e isso faz com que não somente ele, mas também tudo o que ele produz e transforma possa ser enquadrado nesse patamar. Desde os primórdios o ser humano modifica a natureza com vistas à proporcionar a sua subrevivência, em um primeiro momento e a tornar a sua vida mais cômoda, posteriormente. Entretanto, algumas coisas foram inventadas por obra do acaso, como decorrência de um processo totalmente autônomo. 
Para ilustrar o que fora abordado, vou transcrever aqui como se deu a invenção da pinga, a qual se deu ainda durante o período da escravidão: 

"Antigamente, no Brasil, para se ter melado, os escravos colocavam o caldo da cana-de-açúcar em um tacho e levavam ao fogo. Não podiam parar de mexer até que uma consistência cremosa surgisse. Porém um dia, cansados de tanto mexer e com serviços ainda por terminar, os escravos simplesmente pararam e o melado desandou. O que fazer agora? A saída que encontraram foi guardar o melado longe das vistas do feitor. No dia seguinte, encontraram o melado azedo fermentado.
Não pensaram duas vezes e misturaram o tal melado azedo com o novo e levaram os dois ao fogo. Resultado: o ‘azedo’ do melado antigo era álcool que aos poucos foi evaporando e formou no teto do engenho umas goteiras que pingavam constantemente. Era a cachaça já formada que pingava. Daí o nome ‘PINGA’. Quando a pinga batia nas suas costas marcadas com as chibatadas dos feitores ardia muito, por isso deram o nome de ‘ÁGUA-ARDENTE’. Caindo em seus rostos e escorrendo até a boca, os escravos perceberam que, com a tal goteira, ficavam alegres e com vontade de dançar. E sempre que queriam ficar alegres repetiam o processo".

Fonte: História contada no Museu do Homem do Nordeste - Recife/PE.
http://www.sitedecuriosidades.com/ver/origem_da_pinga_%28aguardente_de_cana%29.html