domingo, 24 de outubro de 2010

A Revolução Pernambucana - A “Nova Roma” se rebela mais uma vez (parte 1)

Leão do Norte é a denominação pela qual é conhecido o estado de Pernambuco. Denominação essa tida como sinônimo de povo guerreiro e que não se submete. Essa nobre fama pernambucana, a qual nos dá orgulho, vem desde os tempos da colônia, mais exatamente a partir expulsão dos holandeses da capitania sem o auxílio português, da Revolução Pernambucana em 1817 e da posterior Confederação do Equador em 1824. Nos tempos de D. João VI, o nosso estado era uma espécie de “ovelha negra” da colônia, sendo submetido a uma vigilância especial por parte do monarca. O mesmo também ocorrera durante o Império. De fato, nosso estado faz jus ao trecho do seu hino: “Nova Roma de bravos guerreiros”. 
    Liberdade, emancipação, auto determinação dos povos... Todos esses ideais estiveram presentes naquela que foi a primeira experiência republicana no Brasil, a Revolução Pernambucana de 1817. Mas, não é tão simples assim compreender essa Revolução, pois fatores externos e internos de certa complexidade estiveram nela presentes. É justamente nesses aspectos internos que iremos nos ater  nesse primeiro texto, quais sejam aqueles que constituíram os fatores que ocasionaram o levante republicano de 6 de Março de 1817 e que representavam particularidades do estado de Pernambuco.
    Durante o período do apogeu açucareiro, Pernambuco viveu os seus dias de glória, nosso estado era a capitania mais rica da colônia e o nordeste era a região que impulsionava a economia do Brasil. À essa época, o domínio sobre a capitania de Pernambuco estava nas mãos dos holandeses, que a invadiram com o intuito de explorar o comércio do açúcar. Aqui chegando, os invasores desenvolveram amplamente a produção do produto, principalmente durante a administração do Conde Maurício de Nassau. Enquanto Nassau esteve no comando da administração, a situação em Pernambuco se acalmou: além do já citado desenvolvimento econômico proporcionado pelo açúcar, a reconstrução de vários engenhos que haviam sido devastados durante a luta entre portugueses e holandeses e a liberdade religiosa foram os fatores que contribuíram para essa temporária “calmaria” pras bandas de cá. No entanto, foi só o conde ser afastado de suas funções pela Companhia das Índias Ocidentais, que as exigências aos pernambucanos foram retomadas. Daí também recomeçou a luta armada, até que em 1654 os holandeses foram expulsos de Pernambuco. Expulsos sem a ajuda da Coroa Portuguesa, diga-se de passagem... Por esse motivo, para os pernambucanos, devolver a capitania à Coroa foi um “favor”.  O sentimento de orgulho do povo pernambucano veio então à tona e as ordens vindas de Portugal eram, muitas vezes, ignoradas em Pernambuco. Ora, se Pernambuco não precisou da realeza para retomar seu território dos holandeses, por qual motivo precisaria dela para administrar o seu território? Com esse pensamento, chegou-se a cogitar a independência de Olinda durante a Guerra dos Mascates, em 1710.
     Sentir-se autônomo em relação à Metrópole não bastaria para assegurar a prosperidade pernambucana, eram necessárias riquezas e estas andavam meio escassas. Mas ora, Pernambuco não era o estado mais desenvolvido e com abundantes lucros advindos do açúcar? Era! A essa época a decadência começava a tomar conta do nosso estado. Antes, os holandeses conferiam crédito aos produtores de açúcar, com a expulsão destes, os portugueses passaram a explorar os primeiros mediante pesados impostos. Além disso, os flamengos empenharam-se em realizar o seu empreendimento açucareiro nas Antilhas e é óbvio que a concorrência também era fator prejudicial aos produtores de açúcar pernambucanos. Que contradição! A expulsão holandesa pela qual os pernambucanos tanto lutaram, acabou por se tornar fator prejudicial aos mesmos.
    Também com a presença da Corte portuguesa no Rio de janeiro, a qual trazia consigo todo um luxo e uma enorme quantidade de pessoas que nada faziam, vivendo às custas do rei, se fazia necessário que alguém sustentasse essa situação. E quem sustentava? Os produtores de açúcar pernambucanos! A partir desse momento, pesados impostos passam a recair sobre esses produtores, aumentando ainda mais a sua insatisfação.
    Se você ainda está achando pouco o que ocorria em Pernambuco, veja só o que ainda encontrávamos por aqui: os cargos administrativos eram predominantemente ocupados por portugueses, deixando os brasileiros, e os pernambucanos é óbvio, em segundo plano. Mais um motivo de insatisfação. 
    Esses fatores já seriam suficientes para o desencadeamento de uma revolta, mas ainda faltava o ingrediente final para que possamos ir além dela, chegando a uma revolução: o ingrediente ideológico. E aí entram em cena algumas figuras importantes, como os padres, militares e os maçons. A maçonaria foi meio de transposição de idéias da Europa para Pernambuco, isso se deu pelo fato de a maçonaria pernambucana ter ligações com a inglesa, diferentemente da fluminense, que era altamente influenciada pela portuguesa. Bem, mas esse já é assunto de uma nova postagem!