sexta-feira, 6 de maio de 2011

Nordeste - As nuances da formação da identidade de um povo - Parte 3


Nesse contexto torna-se necessário que haja uma reelaboração e também uma ressignificação do sentido que é dado a região Nordeste. Entretanto, esse processo não deve ser realizado de modo a isolar o passado em relação ao presente, essa ressignificação deve fazer sentido nos dias de hoje. Para Durval Muniz1:

“A escrita da história regional ou local é, neste sentido, não apenas um trabalho da re -apresentação da região, um trabalho de explicação do regional, mas é um trabalho de elaboração do regional, de ressignificação, de atualização de sentido que a região possa ter, é um trabalho de invenção ou re - invenção do regional ou do local.”

Isso ocorre até pelo fato dela ser um instrumento que deverá proporcionar a formação de uma noção de pertencimento e identificação das pessoas em relação a uma determinada região.  Sendo assim, será importante o papel do historiador nesse processo, que tem por intuito formar um modo de ser regional. Desempenhando o seu papal de “Tecelão dos Tempos”, título bastante sugestivo de um dos textos do autor Durval Muniz de Albuquerque Júnior, o historiador deve realizar essa reelaboração da história do Nordeste. Essa reconstrução não deverá seguir paradigmas ou fórmulas predefinidas, como pressupõe o historiador português, Mattoso. Seria mais sensato levar em consideração as peculiaridades encontradas em cada região, mas isso não quer dizer que deve relegar as categorias a serem analisadas, as quais se refere o historiador luso: o espaço no qual ocorrerá o estudo, a demografia, as formas de consumo, entre outros. A modificação que deve ocorrer é no tocante à interpretação que se vai dar a essas categorias, a qual, como já se falou, levará em consideração a realidade vivenciada na região.
Essa interpretação se diferencia quando a ideia de nordeste é produzida fora do seu próprio espaço, a qual pode se contrapor àquela realizada internamente. Sem o intuito de afirmar que os autores não nordestinos que tratam da história da região não possuem autoridade para tal, não se pode negar que algumas vezes há interpretações que levam a uma visão estereotipada do Nordeste. A ideia regional produzida no seio da localidade, por sua vez, poderá levar a uma maior identificação daqueles que dela possuem conhecimento, visto que as pessoas ver-se-ão, de fato, naquele discurso produzido. Diante do exposto cabe-nos aqui fazer a seguinte indagação: qual dessas duas visões predomina entre os habitantes da nossa região? A resposta a essa pergunta poderá ocorrer a partir da observação e análise de situações simples, e que podem até serem consideradas irrelevantes, as quais ocorrem no cotidiano da maioria da população. Muitos nordestinos possuem verdadeira aversão à chamada cultura popular da sua região. Acompanhar uma apresentação de um grupo de maracatu e caboclinhos em alguns eventos de grande porte realizados em Pernambuco é uma grande oportunidade de conhecer turistas de outros estados do País. Ironias à parte é ínfima a participação do próprio povo pernambucano nesses eventos, sobretudo no interior do estado. Questionando-se a respeito do motivo pelo qual ocorrem situações como esta, pode-se destacar o papel da grande mídia, sobretudo a televisiva. Temos nessa situação referente à televisão uma situação interessante e ao mesmo tempo problemática: o nordeste é pouco mostrado na grade televisiva, sobretudo nas telenovelas, as quais possuem grande audiência. O pouco que é apresentado chega por vezes a ridicularizar o nordestino, sobretudo através da fala e dos sotaques de personagens dessas telenovelas. Pois bem, se não há um efetivo conhecimento a respeito da cultura e do “ser nordestino” pela maioria das pessoas e o que chega até os mesmos vem através dessa grande mídia, a consequência é que as mesmas eximam-se de compartilhar dos elementos que caracterizam a região.
Construir o conhecimento a respeito do regional e desconstruir esses discursos a respeito do Nordeste, os quais foram cristalizados pela mídia, passa também pelas construções historiográficas que foram, estão sendo e que serão trabalhadas. 
A historiografia possuía, e por vezes ainda possui como lamentável prática a relação do regional com a tradição e com a lentidão dos processos e das mudanças que nele ocorrem. Traçando um paralelo entre essa afirmação e o Nordeste, podemos perceber que também há essa visão em relação à região, não somente por causa da mídia, mas também por causa da produção historiográfica. Teremos aqui que realizar uma breve retrospectiva em nosso raciocínio, retornando à questão da diferenciação entre a visão de Nordeste produzida fora e aquela produzida dentro da região. Aqueles que formam concepções de Nordeste em um movimento que possui um sentido que vai do exterior para o interior costumam realizar comparações com a sua e até com as demais localidades. Isso gera a utilização do tão contestado termo evolução, estando ele apensado ao vocábulo desenvolvimento. Sendo assim, ao observarem determinadas formas que fazem parte da realidade nordestina, sejam elas políticas, econômicas, sociais, entre outras, e que não vigoram mais em outras regiões, chega-se à conclusão de que há um atraso do Nordeste em relação às demais regiões do País. É importante que os historiadores atentem para os discursos que estão sendo produzidos por eles, pois os mesmos não ficarão presos às páginas de livros ou artigos científicos, mas farão parte de construções ideológicas sobre determinados temas recorrentes na sociedade.
Dentro do aspecto historiográfico temos que relembrar o fato de que a construção da história do Nordeste é algo de cunho regional.


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