sábado, 8 de janeiro de 2011

A importância do patrimônio local - A praça da cidade de Jupi - PE

           É de grande valia a observância dos aspectos históricos dos lugares nos quais vivemos. Em uma das postagens anteriores, tratei do início da formação histórica do município de Jupi - PE. Agora trataremos do assunto referente à praça da cidade de Jupi  e para isso teremos que nos remontar à história da própria cidade. Foi a partir dela que houve a fundação da localidade e partiu todo o crescimento da cidade. Longe de querer repetir o post anterior, retomaremos alguns aspectos que já foram aqui apresentados. 
Antes da chegada do português Antônio Vieira de Melo, em 1617, localizava-se uma tribo indígena onde hoje é Jupi, a qual era conhecida como Olho D’água de Yu-Py. O local possuía abundantes fontes de água e terra muito propícia ao cultivo, principalmente da mandioca, a qual já era cultivada pelos indígenas. O centro dessa tribo era localizado na atual Praça Nossa Senhora do Rosário, a principal da cidade, mas ela se estendia por outras terras ao redor de seu centro. Onde hoje é a atual Rua Antônio Pereira Braga, conhecida por Rua do Fórum, localizava-se um cemitério indígena, por exemplo. Esse fato evidencia-se pela descoberta de várias ossadas quando da construção de um poço em uma casa dessa rua.
Antônio Vieira de Melo foi desterrado das terras Portuguesas, possuindo ele a incumbência de explorar as terras nas quais hoje é o interior de Pernambuco. Na realização de sua missão, o português chegou até a tribo Olho D’água de Yu-Py. No local ele encontrou todos os fatores acima citados, possuindo assim um local apropriado para realizar a sua exploração. Durante a sua estadia no local Antônio veio a adoecer, sendo bem cuidado e tratado pelos nativos. Ao recuperar-se, o mesmo voltou a Portugal e trouxe com ele uma imagem de Nossa Senhora do Rosário para a tribo, construindo uma capela em sua homenagem. Antônio casou-se com uma nativa da tribo, tendo ainda mais confiança perante os mesmos. Desse modo, ele passou o resto dos seus dias vivendo em Olho D’água de Yu-Py, tendo sido sepultado na capela que havia mando erguer. Logo após a transformação da capela de Nossa Senhora do Rosário em paróquia, a imagem trazida por Antônio Vieira foi roubada, não se sabendo do seu paradeiro.
            Pois bem, recontados esses fatos, podemos então compreender como se deu a construção do que hoje temos como Praça do Rosário. O local no qual Antônio ergueu a capela e nela pôs a imagem trazida de Portugal, tendo ele sido auxiliado pelos nativos em sua construção, é o centro da Praça. Neste mesmo lugar, atualmente, tem-se uma imagem da Nossa Senhora do Rosário, a qual foi lá fixada no ano de 2008. Este local já era o centro da tribo indígena e com a construção da capela passou a ser também o centro do povoamento colonizador nascente. Toda a localidade desenvolveu-se ao redor da praça e posteriormente da Igreja Matriz, a qual foi construída há, aproximadamente 50 anos.
            Assim podemos compreender a importância que possui a Praça Nossa Senhora do Rosário para a população de Jupi. É necessário que seja levado em consideração o fato de que, a partir dela, se desenvolveu a localidade a partir da chegada do colonizador. Também era na atual praça o lugar central da tribo Olho d’água de Yu-Py, a qual teve grande influência na formação do que hoje conhecemos por Jupi, principalmente no tocante ao desenvolvimento do cultivo da mandioca. 
            É importante que se veja a Praça não somente como um local de lazer ou que somente se vislumbre a sua beleza. É preciso que se tenha essa visão a respeito da sua importância para a formação de Jupi. Essa questão necessita ser levantada nas escolas do município, para que se forme essa consciência histórica nos alunos, formando gerações conhecedoras do lugar onde vivem.    

Praça Nossa Senhora do Rosário: neste local se encontrava o centro da tribo Olho d'água de Yu Py.

História e música - Uma perfeita combinação

        A música é uma das expressões da cultura que é capaz de despertar os nossos sentimentos e emoções e também de nos ensinar algo sobre o conhecimento. A história também se insere nesse contexto musical, visto que cada composição que é produzida está imbuída de elementos presentes no determinado período de produção da mesma. Além disso, também temos as canções que são compostas no intuito de revelar algum aspecto presente naquele momento. A maioria desses compositores poderia não ter a consciência de que estavam produzindo tão importantes fontes históricas, mas, de fato, produziram. Vamos utilizar aqui dois exemplos bem distintos de músicas que revelam uma determinada realidade, seja ela em função do tempo ou de um grupo social. O primeiro exemplo é conhecido de todos e se refere a um dos maiores cantores brasileiros de todos os tempos: Chico Buarque (Apesar de você). A outra será um samba enredo, o qual deu o ritmo na avenida à escola de samba Salgueiro, em 1989, (Templo Negro em Tempo de Consciência Negra)
        O contexto vivido por Chico Buarque nos remonta à ditadura militar (1964 - 1985), sendo que em alguns trechos  da música podemos observar a repressão vivida nesse momento: Hoje você é quem manda / Falou, tá falado. As ordens dos militares deveriam ser cumpridas, sob pena de violenta repressão. Seguindo-se a esse momento, no qual Chico exemplifica o que se passava no Brasil, ele começa a tratar do que ocorreria quando o regime acabasse. Podemos exemplificar a partir seguinte do trecho: Como vai abafar / Nosso coro a cantar / Na sua frente. Essa canção foi aprovada inicialmente pela sensura, no entanto, ao fazer muito sucesso, sendo tocada várias vezes na rádio, o seu conteúdo despertou a curiosidade dos censores. Descobrindo que a letra se referia ao general Médici, a canção foi proibida de tocar nas rádios. Percebemos, então, que tanto a letra da música, quanto o contexto no qual ela foi produzida, são de grande valia para a compreensão do momento histórico "Ditadura Militar".
        A segunda canção se refere ao negro no Brasil, tanto os seus antepassados, quanto no momento atual. Mesmo sendo uma letra produzida há mais de vinte anos, as suas indagações ainda são muito pertinentes. Podemos encontrar a temática referente à abolição da escravidão, por exemplo, no seguinte trecho: Livre ecoa o grito dessa raça / E traz na carta / A chama ardente da Abolição. Já em relação à contemporaneidade, o samba nos remete ao preconceito enfrentado pelos negros e a luta dos mesmo para modificar essa situação. Além disso, a palavra "farsa" faz com que vislumbremos uma situação na qual o Brasil é tido como um País sem preconceitos em relação aos negros, quando todos sabem que que tal afirmação não passa de uma falácia. Eis o trecho:  Viemos sem revolta e sem chibata / Dar um basta nessa farsa.
        Percebemos que a música é uma fonte histórica muito rica a ser explorada pelos professores, mas também para despertar a consciência de todos nós. Eis os vídeos das músicas anteriormente citadas, sendo o primeiro "Apesar de você" e o segundo "Templo Negro em Tempo de Consciência Negra":