segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

A Revolução Pernambucana - A "Nova Roma" se rebela mais uma vez (parte final)

Napoleão em Pernambuco?
      
Para compreendermos a ideologia contida na Revolução Pernambucana, temos que levar em consideração que os seus três principais líderes eram maçons, então poderemos perceber a importância que esse movimento teve para o levante de 1817. Outros movimentos como a independência dos países do centro, do sul da América e dos Estados Unidos serviram como inspiração aos revolucionários pernambucanos, sobretudo através dessa participação maçônica. A figura de Portugal  representava o tradicionalismo, indo de encontro a esses movimentos e resistindo às modificações que vinham ocorrendo em diversos locais do mundo. Os principais ideais defendidos pelos revolucionários seriam a liberdade, a autodeterminação dos povos e a implantação da república. Esses ideais eram advindos da Europa, mais exatamente da França e também das novas repúblicas da América espanhola. Temos as figuras de Francisco de Paula Cavalcanti Albuquerque e Domingos José Martins como meios de transposição dessas idéias da Europa para o nordeste. Os dois eram maçons.
           Os desentendimentos entre portugueses e brasileiros estavam ocorrendo a todo momento em Pernambuco, o que foi evidenciado no incidente ocorrido na festa da Estância. Durante o ocorrido, um português estava injuriando brasileiros, quando foi surrado por um alferes do regimento dos Henriques. Daí ocorreu o estopim da revolução, quando os brasileiros que haviam sido presos reagiram a essa prisão, fugiram do cárcere e espalharam a revolução por todo o Recife. Na verdade, a situação já estava tensa entre portugueses e brasileiros, necessitando apenas de um momento que determinasse o início do movimento.  A história nos revela algumas curiosidades e a respeito de 1817 temos algo de muito interessante: durante a tomada do poder, cogitou-se entre os revolucionários a possibilidade de libertar Napoleão Bonaparte da Ilha de Santa Helena, na qual estava preso, para que ele liderasse as tropas do movimento. Cruz Cabugá, um dos líderes da Revolução Pernambucana foi aos Estados Unidos para obter apoio político e armas, conseguindo também trazer a Pernambuco alguns generais de Napoleão. No entanto, ao chegar ao Brasil, a Revolução já havia acabado. O plano fracassara.
            No entanto, mesmo sem Napoleão à frente dos soldados a Revolução triunfou, e no primeiro discurso dos revolucionários evidenciou-se a intenção de promover a união entre todos os que habitavam Pernambuco diante da figura de uma pátria nascente. Aí nós podemos observar as características nativistas da revolução, isso devido a essa tentativa de unir todos aqueles que viviam em Pernambuco, ou seja, valorizar aqueles que lá estavam, dizendo: “Pernambuco é nossa pátria, vocês que aqui vivem são todos parte de um mesmo povo”.  
            Passado esse primeiro momento da tomada do poder no Recife, o próximo passo seria a expansão da Revolução para os estados vizinhos, sejam eles Paraíba, Rio Grande do Norte e a então comarca de Itamaracá, além da comarca de Alagoas, sendo que ambas pertenciam a Pernambuco. Após receber a adesão desses locais, a expansão continuou nos estados do Ceará e na Bahia, sendo que nesta última, fiel à coroa, o emissário enviado, Padre Roma, foi capturado e fuzilado a mando do Conde dos Arcos, que era representante da Coroa. Importante dizer que em quase todos os estados, a população não se mostrou engajada na Revolução e em Pernambuco, no entanto, o povo tanto festejou a tomada do poder pelos revolucionários, quanto a retomada do mesmo pela Coroa portuguesa. Esse fato mostra que, apesar de engajada, a população de Pernambuco e dos outros estados não estava a par de todas as propostas dos revolucionários. A partir esse momento de consolidação no Recife, começou a ocorrer o movimento de contra revolução, ou seja, a reação da Coroa portuguesa. Por meio de guerrilhas, os revolucionários tentaram manter-se no poder, além disso, ocorreram incursões pelo litoral e pelo interior. No entanto, a reação monárquica foi feroz, e o quantitativo de soldados foi um dos fatores que fez a diferença em favor dos portugueses.
            O movimento pernambucano de 1817 foi o único capaz de vencer o Reino Português em toda a sua história, sendo que os outros movimentos não passaram de intenções ou desejos de romper com a monarquia. Interessante que a idéia não consistia simplesmente em emancipar-se de Portugal, mas sim de formar um novo Estado, mais exatamente uma República. Essa República possuía todos os pré requisitos necessários para que fosse formada à inspiração Francesa, quebrando com o Antigo Regime. Seus ideários primavam pela liberdade, havendo um projeto de constituição, no qual o Estado seria laico e haveria a abolição da escravidão.     

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário