quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Os lugares de memória e a História

"Fala-se tanto em memória porque ela não existe mais". Essa afirmação de Pierre Nora nos faz compreender a necessidade de promover a preservação da memória através da transformação da História em um lugar comum às pessoas. As pessoas que possuem consciência histórica, não necessariamente historiadores, estão cientes de que esssas memórias poderão ficar totalmente esquecidas devido à grande velocidade pela qual se processam as informações hoje em dia. O reconhecimento dessa constatação faz com que também reconheçamos que exsite a necessidade de haver os locais de memória. A memória possui uma forte dependência da História, tendo a primeira que ser lembrada em determinados locais, pois o homem não é capaz de fazê-lo sozinho. Com isso também admitimos que a memória deixa de ser individualizada e autônoma nas pessoas, podendo ela ser produzida e modificada de acordo com os interesses das classes dominantes. 
Os lugares de memória possuem vários sentidos, sejam eles materiais, simbólicos ou funcionais, os quais decorrem da necessidade de se cristalizar um acontecimento ou experiência vivida. Esses lugares, além de cristalizarem essa memória, também conferem sentido à mesma, no entanto, não podemos esquecer que há sempre uma ideologia que está implícita nesse sentido. A mídia desempenha um papel importante nesse processo, pois através dela a memória tornou-se algo comum a todos, ou seja, o seu conteúdo já vem prefixado pelos meios de comunicação de massa. 
Dentro da ascenção dos locais de memória, temos que conferir um maior destaque à presença das histórias oficiais, pois estas possuem com intuito principal a formação de um sentimento de nacionalidade, subtraindo a memória individual. Elas elevam o papel das histórias coletivas, as quais se utilizaram das história para incutir-se na mentalidade das pessoas, sempre como a verdade histórica absoluta e inquestionável. Desse modo, não se respeita a individualidade e as heranças que cada indivíduo traz consigo, sendo que aquela memória que é passada hereditariamente, de maneira peculiar e inerente a cada pessoa, é quase que "engolida" por essa história-memória "oficial". 
A história oficial e a sua materialização nos locais de memória são fatores primordiais que acarretaram essa diferenciação entre a memória e a história. A história oficial teria relegado a segundo plano a memória, que ficaria restrita apenas ao interior das sociedades, não sendo amplamente revelada e gerando em torno de si uma espécie de mística. Esse processo causou um distanciamento entre as duas, o que é equivocado. Na verdade, a memória e a história se complementam, uma necessita da outra em uma estreita relação. As memórias irão oferecer suporte à formação da história, assim como a pesquisa documental, a arqueologia e tantos outros métodos também oferecem. Sendo assim, chegamos à conclusão de que, sem memória não haveria história. A partir daí podemos fazer uma crítica ao texto de Pierre Nora, visto que ele realiza uma ferrenha contraposição entre história e memória: "Longe de serem sinônimos, tomamos consciência de que tudo opõe uma à outra". (pp. 9). Mesmo assim, sabendo que história e memória não podem assumir posições tão antagônicas quanto as defendidas por Nora, temos que admitir que há algumas diferenciações entre as duas: a história é algo que atinge as pessoas de maneira universal, ou seja, ela é  mais ampla, enquanto a memória é mais particularizada (ou deveria ser). Esta última está mais ligada a gestos, imagens, objetos e aos aspectos residuais da lembrança humana. A história também busca a descoberta da verdade dos fatos, enquanto a memória não possui essa prerrogativa devido às suas particularidades, como a seletividade e a sua consequente maneira incompleta de tratar os fatos. A complementação entre as duas fica evidenciada quando observamos a necessidade de não se perder essa memória, o que faz com que ela se torne história, sendo que esse processo ocorre quando a primeira é registrada. 
Os locais de memória são a expressão material da história cristalizada, os quais incidem sobre todas as pessoas. Eles permitem a conservação da história oficial e coletiva em detrimento da memória individualizada. No entanto, é possível aliar as duas vertentes, respeitando a memória e não utilizando a história a serviço de determinados setores da sociedade. 

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